domingo, 25 de janeiro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP. VII PARTE I)

CAPITULO VII

“PAUL DU CLERMONT”

No meio de uma densa névoa cinzenta e fria, Paris estava submersa numa garoa de outono. Pelos quatro cantos da cidade, a presença do frio outono pressagiava um inverno gelado e longo. O verão já era passado, e os parisienses esqueceram os dias cálidos e agradáveis do estio para voltar as suas jornadas rotineiras.
No apartamento da rua Racine, tudo parecia escuro e triste. Já tinha se passado duas semanas do funeral de Henri Brigny, evento que teve uma grande ausência: Claire. A moça, simplesmente se negou a ir, se negou a ver aquele rapaz que tanto amava indo para sua última morada. Não, ela o queria lembrar com alegria, não com tristeza. Gerard compreendeu muito bem o desejo da filha e representou à família neste momento tão doloroso para todos os que conheciam o filho de Madame Brigny.
Claire permaneceu reclusa nos limites do seu quarto. Era sua proteção e sua guarida. Aqui ela lambia as feridas da dor, do desespero e da tristeza. Ela só folhava o livro de receitas do Pajé e escrevia comentários ao lado. Ficava horas e horas estudando ervas, aromas e perfumes. Lia e relia os comentários de Henri que ela escreveu no seu caderno de anotações, pensava em novos produtos. Era como se ela estivesse se preparando para algo mais, mas ainda não conseguia deixar o quarto.
Fazia todas as refeições ali. O pai começou a se preocupar. As aulas na Saint Margarete já tinham começado e Claire ainda não fora. A amiga Joan copiava a lição para ela e a levava todos os dias. Joan lia para ela tudo o que eles estudavam e Claire parecia ausente.
- Claire, Claire, você está me ouvindo?
A menina só acenava com a cabeça e mantinha o olhar pela janela de vidro coberto de gotas de agua. De vez em quando, ela ia até a janela e observava a rua. Via muita gente com guarda-chuvas tentando se proteger do vento frio e das grossas gotas de agua que caiam sem parar. Tudo parecia triste e solitário para Claire. As vezes o desespero tomava conta dela e se debruçava em lágrimas.
Quando o paroxismo da dor se mistura com o desespero a alma sofre de tal forma que tudo o que vê é escuridão e desejo de fuga da realidade. É um momento doloroso e só os que sofrem, sabem exatamente a que me refiro. Claire sofria intensamente, e apesar do frescor dos seus dezoito anos, existia no ar uma injustiça do porque o destino a fazia sofrer tanto. Não era justo – diziam os que a conheciam – e era terrível ter que passar por este momento horroroso, sendo tão jovem, tendo tanta vida pela frente.
Com o passar das horas, dos dias e das semanas, a dor a endurecia lentamente. Claire emergia do seu luto e os que a conheciam de perto, especialmente Gerard e Joan, perceberam que ela tinha ficado fechada e dura. Escondia os sentimentos, passou a ser uma mulher de pedra.
Gerard estava realmente preocupado com a filha. Na universidade ele se encontrou com seu amigo Jean Du Clermont que estava na cidade para participar de um congresso médico na Universidade. Após o evento, na hora do coctel, Gerard contou ao amigo tudo o que tinha acontecido.
- Pobre Claire, pobre menina – disse Jean compreendendo o amigo – você não acha mais correto se ela deixasse a cidade?
- Ela nem sequer cogita sair do quarto, quanto mais da cidade
- Se ela quisesse, poderia passar uma temporada em Royat. Paul e eu a receberíamos com muita satisfação..
- Obrigado meu amigo. Vou tentar falar com ela, mas existe outra pessoa que poderá, creio eu, tira-la do seu letargo, Madame Brigny, a mãe do jovem Henri.

- Se você acredita que assim será, assim será – disse Jean dando umas palmadas no ombro de Gerard.

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