sexta-feira, 13 de maio de 2011

A MENINA E O BARRO - CONTO (PARTE I)


Ela sempre tivera uma intimidade superior com o barro. Quando as chuvas escassas do nordeste passavam, a menina deliciava-se pisando o barro, brincando, ou simplesmente olhando para ele.
Durante um bom tempo, ela observava esse tapete escuro que cobria o quintal de sua casa. Quando o sol brilhava, o barro parecia refulgir como campo de espelho diante dos seus olhos.
As vezes fechava os olhos e imaginava exércitos de homens feitos de barro.
Quando acompanhava a mãe, dona Mariana até o riacho para lavar roupas, ela levava consigo um pedaço de barro; amava o barro mais do que a sua bonequinha “Mulata”, de pano que o seu pai lhe dera de presente quando voltou do Recife.
A menina que era feliz brincando com o barro no quintal da sua pequena casa, no agreste pernambucano, não imaginava que a vida lhe ofereceria – através do barro- os mais dadivosos presentes do mundo.
O barro que segurava nas mãos, e que as vezes até passava pelo rosto ingênuo e puro, chegaria a ser o objeto do seu trunfo.
A pequena Alma, longe de todos estes pensamentos, brincava tranqüila. O futuro não existia ainda; o presente era calmo e agradável, apesar da realidade ser cheia de limitações. Ela era e sempre fora feliz. A pobreza nordestina não era nenhuma cruz; ao contrario, ajudava-a no florescimento da sua imaginação. A mente da pequena Alma estava habitada por seres magníficos, fadas, duendes, e tanto outros seres que a sua fantástica mente era capaz de criar. Não estava só, nem sentia-se só. A sua humanidade estava cercada de aliados poderosos que a ajudariam no futuro.
Para ela, o barro era só um brinquedo infantil com o qual moldava suas bonecas, seus animais de estimação, seus sonhos. O barro era só isso para ela: por enquanto.

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