sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.I PARTE IX)


Damásio Bezerra queria que o único filho estudasse medicina no Recife. O jovem Gerônimo, agora com dezessete anos, se preparava para entrar na universidade e seguir os conselhos do pai. Fazia três anos que já estudava em Recife, e no colégio, não era um mau aluno. Também não era brilhante, mas tinha uma inteligência fora do comum, talvez para os que observavam o jovem com atenção, descobrissem que era uma inteligência um tanto sinistra. Ele conseguia driblar com facilidade as ordens dos professores e da diretoria da escola, sempre escapava de algumas aulas que não gostava, alegando motivos de saúde ou compromissos irrecusáveis. De qualquer modo, Gerô, como era chamado intimamente, era um jovem que poderia chegar a ser alguém importante. O nome do pai tinha importância, mesmo na capital, e isso era uma alavanca formidável para o futuro no Recife dos anos quarenta.

Gerô sempre gostou de morar na capital. Gostava de ir à praia nos finais de semana, de andar de bicicleta, de desfrutar da vida agitada dos jovens de Recife. Mesmo sendo muito jovem, chefiava um grupo de colegas que, às vezes, faziam arruaça na escola. Nunca fora punido por isso, porque sempre se manteve a margem de tudo, com muita inteligência.

Então, chegaram às férias e era momento de ir para casa. Gerô não gostava muito de lá. Achava a cidade de Inajá um tédio e, passar uns dias com os pais era um suplicio. Então, numa dessas tardes quentes do sertão, pegou o cavalo e decidiu incursionar pelas redondezas. Passou pela rua principal de Inajá, viu a venda dos Malta cheia de clientes, o sol batendo com intensidade o seu rosto. Decidira ir para o rio e banhar-se já que fazia muito tempo que não desfrutava de um banho no Moxotó.

Então acontecera algo inesquecível e totalmente imprevisto: conhecera a filha dos Malta, Alma Rocha. Aquela menina atraiu a sua atenção imediatamente. Até esse momento, Gerônimo Bezerra nunca sentiu uma atração tão forte pelo sexo oposto. Em Recife gostava de brincar com as colegas de colégio e inclusive dizia que era namorado de algumas delas, mas nunca com seriedade. Era a primeira vez que, ao ver uma moçoila do Sertão, ficou prendado definitivamente.

O encontro fora rápido e terminou mal, pelo menos para ele. Alma ficara assustada com a presença intempestiva do rapaz, e saiu correndo. Dias depois, Gerô voltou varias vezes para o rio e não conseguiu mais ver a moça. Alma Rocha fixara-se na sua mente, e também no seu coração.

Desapontado por não voltar a vê-la, Gerô voltou para Recife. As férias tinham acabado e era hora de voltar aos estudos.

Foi então que, um belo dia, ao sair do colégio entrou numa sorveteria da praça perto de sua casa e sentou-se num banquinho para tomar o saboroso sorvete de chocolate que tanto gostava. Bem perto, dois rapazes, também tomavam sorvete e conversavam animadamente. Os dois estavam trajados em vestes militares: eram soldados.

A conversa chamou a atenção de Gerônimo imediatamente.

- E ai, Damião, daqui a dois meses termina o nosso serviço. O que pretende fazer então?

- Voltar para Inajá. Ajudar o vovô Malta na venda e seguir a vida. E você?

- Não penso voltar para casa. Ficarei por aqui no Recife. Gostei da cidade. Vou arranjar um emprego e morarei aqui mesmo.

- Boa ideia. Eu só não fico porque o meu avô precisa de mim. Gosto de Recife, mas por enquanto vou ficar na venda mesmo.

- Muito bom. Bem, acabei o sorvete, vamos indo?

- Vamos!

Gerônimo viu os dois jovens soldados se dirigirem em direção ao quartel central ali perto. Então esse era um dos jovens Malta – pensou - , então é o irmão da minha princesinha...Hummm...Isso está interessante...Devo fazer o possível para me aproximar desse rapaz.

A partir desse momento, Gerônimo Bezerra começou a seguir o Damião. O plano estava traçado.

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