Os passos lentos registravam além do pó do caminho, uma
estrada na vida do Pajé Jabú. Ele precisava coletar mais ervas para a tribo.
Naquele período muita gente adoecera e não só de doença física, mas também de
problemas espirituais. Tudo estava a cargo dele e ele era o responsável pela
saúde – espiritual e material – do grupo.
Acontecera então que naquela tarde ensolarada chegou às
margens do Moxotó. O rio deslizava-se lentamente com seu perene caminhar ao
infinito. Na margem direita, alguns pássaros e as vezes, alguma capivara,
procurava algum alimento para sobreviver. O lugar parecia quieto e tudo
respirava paz. Jabú colheu algumas folhas de jabuticabeira e sentou se num
tronco observando a paisagem. Fechou os olhos e parecia entrar num estado de
trance quando escutou um ruído na água. Abriu os olhos e deparou-se com a
menina que já tinha conhecido há um bom tempo atrás.
A menina acenou para ele e ele fez um gesto de se aproximar.
Nessa parte do rio, não era profundo e Alma nadou com muita perfeição e rapidez
até o encontro do velho. Para ela Jabú
era como se fosse um ser misterioso e que tinha uma conexão com a natureza, especialmente
com o rio.
A menina se aproximou sorrindo. Ao contrario daquele encontro
com Gerônimo Bezerra, o velho pajé só despertava em ela muita paz.
- Boa tarde.....lembra de mim?
- A menina do rio! – disse o pajé esboçando um sorriso. –
como vai menina?
- Muito bem, o senhor é um bruxo?
- Bruxo?, bem, mais ou menos, na verdade sou um pajé da tribo
Tuxá, não tão distante daqui...e você,mora por aqui perto?
- Sim, disse a menina sorrindo- moro perto, minha casa fica
acima da trilha- e olhou para as ervas que o pajé tinha numa sacola de linho
velha – para que as folhas?
- Faço poções com elas. São ervas medicinais e jabuticabas,
elas são boas para a saúde da tribo.
- Hummm....adoro jabuticaba....
- Bem, posso lhe ensinar algo sobre jabuticabas. Pega a folha
da jabuticabeira e ferva em água quente, depois deixe esfriar e misture com o
barro do rio, você vai ver que isso cura qualquer picada de inseto e também
deixará a sua pele muito bonita, as rugas tardarão em chegar....Quantos anos
você acha que eu tenho?
- Acho que...uns setenta?
- Tenho 97 anos!..Sempre usei jabuticaba com o barro deste
rio....Não se esqueça disso, vai ser útil para você no futuro.
- Não vou esquecer,e muito obrigada senhor Pajé...Meu nome é
Alma
- Eu sou o Pajé Jabú..
- Obrigada mais uma vez seu Jabú, digo, seu Pajé....Não
esquecerei.....ah, o senhor vem sempre por aqui?
- De vez em quando, mas se você quiser falar comigo e só vir
até o rio, fechar os olhos e me chamar mentalmente..
- Como assim?
- Muito simples, feche os olhos e diga em pensamento: “Quero
falar com o Pajé”. Eu virei em poucos dias e nos encontraremos aqui...
- Ótimo seu Jabú, vou fazer o que me ensinou e da próxima
vez, lhe conto...Adeus......até breve...
- Até breve menina do barro....Estarei por aqui sempre que
precisar...
Alma dirigiu-se até a trilha e antes de empreender o caminho
de regresso à casa, olhou para o rio. O velho tinha
desaparecido.
“Nossa, como ele é ágil” – pensou Alma e começou a correr.
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