sábado, 10 de agosto de 2013

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.I, PARTE VIII)


Os passos lentos registravam além do pó do caminho, uma estrada na vida do Pajé Jabú. Ele precisava coletar mais ervas para a tribo. Naquele período muita gente adoecera e não só de doença física, mas também de problemas espirituais. Tudo estava a cargo dele e ele era o responsável pela saúde – espiritual e material – do grupo.

Acontecera então que naquela tarde ensolarada chegou às margens do Moxotó. O rio deslizava-se lentamente com seu perene caminhar ao infinito. Na margem direita, alguns pássaros e as vezes, alguma capivara, procurava algum alimento para sobreviver. O lugar parecia quieto e tudo respirava paz. Jabú colheu algumas folhas de jabuticabeira e sentou se num tronco observando a paisagem. Fechou os olhos e parecia entrar num estado de trance quando escutou um ruído na água. Abriu os olhos e deparou-se com a menina que já tinha conhecido há um bom tempo atrás.

A menina acenou para ele e ele fez um gesto de se aproximar. Nessa parte do rio, não era profundo e Alma nadou com muita perfeição e rapidez até o encontro do velho. Para ela  Jabú era como se fosse um ser misterioso e que tinha uma conexão com a natureza, especialmente com o rio.

A menina se aproximou sorrindo. Ao contrario daquele encontro com Gerônimo Bezerra, o velho pajé só despertava em ela muita paz.

- Boa tarde.....lembra de mim?

- A menina do rio! – disse o pajé esboçando um sorriso. – como vai menina?

- Muito bem, o senhor é um bruxo?

- Bruxo?, bem, mais ou menos, na verdade sou um pajé da tribo Tuxá, não tão distante daqui...e você,mora por aqui perto?

- Sim, disse a menina sorrindo- moro perto, minha casa fica acima da trilha- e olhou para as ervas que o pajé tinha numa sacola de linho velha – para que as folhas?

- Faço poções com elas. São ervas medicinais e jabuticabas, elas são boas para a saúde da tribo.

- Hummm....adoro jabuticaba....

- Bem, posso lhe ensinar algo sobre jabuticabas. Pega a folha da jabuticabeira e ferva em água quente, depois deixe esfriar e misture com o barro do rio, você vai ver que isso cura qualquer picada de inseto e também deixará a sua pele muito bonita, as rugas tardarão em chegar....Quantos anos você acha que eu tenho?

- Acho que...uns setenta?

- Tenho 97 anos!..Sempre usei jabuticaba com o barro deste rio....Não se esqueça disso, vai ser útil para você no futuro.

- Não vou esquecer,e muito obrigada senhor Pajé...Meu nome é Alma

- Eu sou o Pajé Jabú..

- Obrigada mais uma vez seu Jabú, digo, seu Pajé....Não esquecerei.....ah, o senhor vem sempre por aqui?

- De vez em quando, mas se você quiser falar comigo e só vir até o rio, fechar os olhos e me chamar mentalmente..

- Como assim?

- Muito simples, feche os olhos e diga em pensamento: “Quero falar com o Pajé”. Eu virei em poucos dias e nos encontraremos aqui...

- Ótimo seu Jabú, vou fazer o que me ensinou e da próxima vez, lhe conto...Adeus......até breve...

- Até breve menina do barro....Estarei por aqui sempre que precisar...

Alma dirigiu-se até a trilha e antes de empreender o caminho de regresso  à  casa, olhou para o rio. O velho tinha desaparecido.

“Nossa, como ele é ágil” – pensou Alma e começou a correr.
 

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