Construir um personagem é como morrer um pouco. Sofrimento e
apreensão são sinônimos na hora de escrever, de criar a vida de alguém que,
depois de sair da sua mente, terá vida própria. Depois virá o terrível
exercício de ficar independente dessa figura estranha saída de você mesmo. O
oficio de escrever um personagem é, de certo, visceral. Uma famosa escritora
tinha dito que ela morria um pouco toda vez que terminava um livro, pois os
personagens adquirem vida própria e também gostam de flutuar dentro de nos como
se fossem nosso “alter ego”.
Agora estou vendo o sofrimento de um personagem criado por
mim. Eu fiquei muito emocionado com a independência que adquiri, desde o
começo, com ele. Mas agora, devo fazer que ele enfrente uma tragédia pavorosa.
Isso me faz sofrer. Talvez porque eu percebi que não tenho o poder de impedir o
seu sofrimento. É uma loucura. Eu posso criá-lo, mas não posso fazer nada para
impedir o seu destino. E numa inspiração irracional, o seu destino é sofrer e
tentar se salvar. De qualquer forma, o
destino do personagem é independente do meu e isso é algo
impressionante.
Muitas vezes me perguntei o porque disso tudo. Mas, como tudo
na vida e não encontrei resposta. Só sei que o “meu sofrimento” ao ver os meus
personagens sofrendo, nada tem de diferente do sofrimento do ser humano nesta
complexa e inebriante vida.
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