quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

LIVRO

Aconteceu numa dessas noites quentes de verão. Acordei no meio da madrugada, sobressaltado por um grito de angustia e apreensão. Tivera um pesadelo, mas não lembrava qual era. Então levantei rapidamente e fui beber água fresca; a madrugada estava realmente quente, tal vez uns 25 ou 26 graus. Nunca tinha me sentido assim, fortemente influenciado, e não aliviado, por um pesadelo que já tinha a consciência de que era um pesadelo, e graças a Deus, não era realidade.

Então pensei num livro que tinha lido há muito tempo, “O evangelho segundo G.H.” de Clarice Lispector. A personagem (G.H.) se deparava com a sua própria essência ao ver uma barata, ao visitar o quarto de empregada vazio numa manhã rotineira da sua vida. Aquela visão a levaria a um autoanalise terrível da sua própria existência. Uma jornada obrigatória e necessária para qualquer um de nos, ao menos uma vez na vida.

Por que me lembrei desse livro? Qual era o objetivo de tudo isso? Então me veio à mente que Eu, como G.H. estava à procura da minha própria barata, ou seja, não uma barata qualquer, mas uma que me puxasse a realizar essa jornada de olhar a mim mesmo e analisar a minha própria vida.

Vaguei pela escuridão da sala, abri as janelas, vi que a alvorada ainda estava longe, e nessa escuridão, o livro de Clarice me ajudou, e muito. A escuridão quente e silenciosa da noite era a minha “barata” que me ajudaria a me defrontar contra mim mesmo. Então, percebi o que já tinha feito e o que ainda deveria fazer pela minha vida. Um ano acabava de começar, mas não era possível vislumbrar aquela luz do túnel da existência que me clareasse a mente e me colocasse no rumo pelo qual deveria transitar. Mas, a escuridão traz a sua própria reflexão, porque ela me obriga a ver o meu lado escuro (aquele que todos nos temos) e a examina-lo com lentidão e racionalidade. O que sou capaz de fazer? Qual é o meu real potencial para realizar aquilo que desejo? ; isso é escuridão ou é luz? Como posso diferenciar a noite do dia na minha alma? Como saber se o que estou fazendo pertence ao lado escuro ou ao claro? Perguntas, em fim, necessárias para seguir adiante. E depois vem uma luminosidade incandescente como um farol que brilha no meio da escuridão. De repente toda a sala ficou mais clara. De repente, a luz!. Sim, onde há escuridão existe a luz, é só procura-la, procurar essa luz dentro de nos mesmos, da nossa mente, porque ela é fundamental para que a vida seja mais prazerosa, e que nos de a sensação de que valeu a pena, de que vale a pena a procura da felicidade.

De repente a minha barata (a escuridão) sumiu, e apareceu a luz da compreensão, da misericórdia, do amor, da esperança; isso só podia me deixar muito feliz e com uma emoção incrível de que vale a pena refletir, mesmo que de vez em quando, sobre a complexidade da nossa alma.

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