Então pensei num livro que tinha lido há muito tempo, “O
evangelho segundo G.H.” de Clarice Lispector. A personagem (G.H.) se deparava
com a sua própria essência ao ver uma barata, ao visitar o quarto de empregada
vazio numa manhã rotineira da sua vida. Aquela visão a levaria a um autoanalise
terrível da sua própria existência. Uma jornada obrigatória e necessária para
qualquer um de nos, ao menos uma vez na vida.
Por que me lembrei desse livro? Qual era o objetivo de tudo
isso? Então me veio à mente que Eu, como G.H. estava à procura da minha própria
barata, ou seja, não uma barata qualquer, mas uma que me puxasse a realizar
essa jornada de olhar a mim mesmo e analisar a minha própria vida.
Vaguei pela escuridão da sala, abri as janelas, vi que a
alvorada ainda estava longe, e nessa escuridão, o livro de Clarice me ajudou, e
muito. A escuridão quente e silenciosa da noite era a minha “barata” que me
ajudaria a me defrontar contra mim mesmo. Então, percebi o que já tinha feito e
o que ainda deveria fazer pela minha vida. Um ano acabava de começar, mas não
era possível vislumbrar aquela luz do túnel da existência que me clareasse a
mente e me colocasse no rumo pelo qual deveria transitar. Mas, a escuridão traz
a sua própria reflexão, porque ela me obriga a ver o meu lado escuro (aquele
que todos nos temos) e a examina-lo com lentidão e racionalidade. O que sou
capaz de fazer? Qual é o meu real potencial para realizar aquilo que desejo? ;
isso é escuridão ou é luz? Como posso diferenciar a noite do dia na minha alma?
Como saber se o que estou fazendo pertence ao lado escuro ou ao claro?
Perguntas, em fim, necessárias para seguir adiante. E depois vem uma
luminosidade incandescente como um farol que brilha no meio da escuridão. De
repente toda a sala ficou mais clara. De repente, a luz!. Sim, onde há
escuridão existe a luz, é só procura-la, procurar essa luz dentro de nos
mesmos, da nossa mente, porque ela é fundamental para que a vida seja mais
prazerosa, e que nos de a sensação de que valeu a pena, de que vale a pena a
procura da felicidade.
De repente a minha barata (a escuridão) sumiu, e apareceu a
luz da compreensão, da misericórdia, do amor, da esperança; isso só podia me
deixar muito feliz e com uma emoção incrível de que vale a pena refletir, mesmo
que de vez em quando, sobre a complexidade da nossa alma.
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