A partir do encontro de Alma com a
mãe e a Irmã de Augusto Tristão, o relacionamento entre o doutor e a moça
evoluiu. O doutor visitava o velho Malta quase todos os dias; alias o velho
melhorou tanto que, em poucas semanas, recuperou-se totalmente e pouco a pouco
começou a aparecer na venda cumprimentando os clientes. O neto continuava no
comando.
Toda vez que Augusto visitava o velho
Malta, Alma estava ai, sorrindo, sentindo-se cada vez mais impressionada pelo
olhar penetrante do medico e pouco a pouco, os dois começaram a conversar.
Por outro lado, quem também aparecia
na Venda com o intuito de ver a moça era o Gerônimo Bezerra. Por coincidência,
Alma quase nunca se cruzou com ele, mas nas conversas durante o jantar na casa
dos Rocha, o nome de Gerô aparecia e Damião sempre falava bem dele. A essas
alturas, eram muito amigos.
- Convidei o Gerô para pescar no rio
neste final de semana – dizia o filho mais velho do Seu Rubião - ...Gerô me
convidou também para ir a Recife com ele no feriado...
Coisas por ai.
De qualquer forma, assim como o nome
do filho do Coronel Bezerra era mencionado, Alma permanecia em silencio, assim
como das Dores, mas não o Seu Rubião.
- Damião, tenha cuidado com os
Bezerra. Eles não são de confiança.
- Mas Gerô é meu amigo – dizia o filho
– e ele tem demonstrado muita amizade comigo desde que o ajudei naquela noite
em Recife.
- Meu filho, eu já vivi o suficiente
para saber como são as pessoas daqui. Toma cuidado. Só isso.
- Sim, senhor.
E a conversa morria por ai.
Mas certa noite, Damião convidou Alma
para ir tomar um sorvete na praça. A moça rejeitou o pedido dizendo que estava
com dor de cabeça, pois adivinhou que Gerônimo Bezerra estaria por lá
aguardando.
Numa tarde de sábado, fazia muito
calor quando Alma decidiu ir para o rio tomar banho. Depois de ajudar a mãe nos
afazeres de sempre, foi ao rio Moxotó.
O rio Moxotó deslizava-se tranquilo e
sereno, como se ele fosse o único rio do mundo. Alma fechou os olhos, sentiu
uma suave brisa que vinha da mata e, despiu-se rapidamente. Sentiu a água morna
invadindo o seu corpo. Mergulhou com prazer e nadou até a ribeira oposta. Ali,
deitou-se na areia e fechou os olhos com um prazer inenarrável.
Quando o calor aumentou, voltou para
a água e nadou novamente até o outro lado. Ficou sentada olhando a correnteza
suave do rio por muito tempo. Depois, aprontou-se para voltar para casa quando
sentiu a presença de alguém por trás.
- Olá Alma
Ao ouvir essa voz, Alma ficou
paralisada por um momento. Era Gerô.
- Quero conversar com você.
- Já estava indo embora. Não tenho
tempo, com licença – disse a moça nervosa, mas o rapaz a segurou pelo braço.
Alma gelou.
- Me larga, devo voltar já.
- Escuta aqui garota, ninguém rejeita
um Bezerra, quero conversar com você e você vai me ouvir...- Nesse momento,
Gerônimo abraçou-a com força e a derrubou no chão.
Nesse momento, Alma começou a gritar.
- Socorro!!!
- Não adianta gritar, ninguém vai te
ouvir..Quero você para mim...só para mim....
A moça desesperada se debatia como
podia. Continuava gritanto.
Gerô estava descontrolado de paixão e
loucura, mas não percebera que uma sombra aproximava-se dele rapidamente. Quase
num segundo, sentiu um golpe nas costas e caiu debruçado do outro lado de Alma.
Ao tentar se levantar, viu um homem velho com um machado nas mãos, e com gesto
ameaçador conseguiu que o rapaz fugisse assustado. Mas, olhando para Alma,
gritou:
- Isso não acabou garota, vou voltar.
Você ainda será minha!! – e desapareceu na mata.
O velho Jabú, o pajé amigo de Alma,
ajudou a levanta-la e a abraçou com carinho. Ela não parava de chorar.
- Minha filha, já passou, não se
preocupe...Você vai ficar melhor.....fica calma.....senta aqui – disse
levando-a até uma pedra. Ali a moça se sentou e parou de chorar.
- Obrigada velho Jabú, obrigada....Se
não fosse pelo senhor...não sei o que aconteceria..
- Minha filha. Olha, escuta bem este
conselho deste velho pajé. Você deve tomar cuidado com esse sujeito. Ele é mau,
ele pode prejudicar você e toda sua família.
- Mas, eu sei...eu sei...Nunca gostei
dele. Aquele olhar sinistro..Meu Deus....
- Por ora, não se preocupe. Mas
precisa tomar cuidado, muito cuidado. Não venha mais sozinha por aqui. É
perigoso.
- Sim, obrigada.
- Toma isto – o velho tirou uma
pequena bolsa com ervas – faça uma infusão com estas ervas que vai te acalmar.
Se precisar de mim, é só chamar.....Agora, seja boa menina e vá para casa. Lá
estão te esperando.
- Esperando? Como assim?
O velho deu meia volta e desapareceu
na mata sem responder. Alma respirou fundo e percebeu o que lhe havia
acontecido. Tremendo de medo e de ódio, voltou para casa correndo.
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