quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAPITULO II PARTE VI)


A partir do encontro de Alma com a mãe e a Irmã de Augusto Tristão, o relacionamento entre o doutor e a moça evoluiu. O doutor visitava o velho Malta quase todos os dias; alias o velho melhorou tanto que, em poucas semanas, recuperou-se totalmente e pouco a pouco começou a aparecer na venda cumprimentando os clientes. O neto continuava no comando.

Toda vez que Augusto visitava o velho Malta, Alma estava ai, sorrindo, sentindo-se cada vez mais impressionada pelo olhar penetrante do medico e pouco a pouco, os dois começaram a conversar.

Por outro lado, quem também aparecia na Venda com o intuito de ver a moça era o Gerônimo Bezerra. Por coincidência, Alma quase nunca se cruzou com ele, mas nas conversas durante o jantar na casa dos Rocha, o nome de Gerô aparecia e Damião sempre falava bem dele. A essas alturas, eram muito amigos.

- Convidei o Gerô para pescar no rio neste final de semana – dizia o filho mais velho do Seu Rubião - ...Gerô me convidou também para ir a Recife com ele no feriado...

Coisas por ai.

De qualquer forma, assim como o nome do filho do Coronel Bezerra era mencionado, Alma permanecia em silencio, assim como das Dores, mas não o Seu Rubião.

- Damião, tenha cuidado com os Bezerra. Eles não são de confiança.

- Mas Gerô é meu amigo – dizia o filho – e ele tem demonstrado muita amizade comigo desde que o ajudei naquela noite em Recife.

- Meu filho, eu já vivi o suficiente para saber como são as pessoas daqui. Toma cuidado. Só isso.

- Sim, senhor.

E a conversa morria por ai.

Mas certa noite, Damião convidou Alma para ir tomar um sorvete na praça. A moça rejeitou o pedido dizendo que estava com dor de cabeça, pois adivinhou que Gerônimo Bezerra estaria por lá aguardando.

Numa tarde de sábado, fazia muito calor quando Alma decidiu ir para o rio tomar banho. Depois de ajudar a mãe nos afazeres de sempre, foi ao rio Moxotó.

O rio Moxotó deslizava-se tranquilo e sereno, como se ele fosse o único rio do mundo. Alma fechou os olhos, sentiu uma suave brisa que vinha da mata e, despiu-se rapidamente. Sentiu a água morna invadindo o seu corpo. Mergulhou com prazer e nadou até a ribeira oposta. Ali, deitou-se na areia e fechou os olhos com um prazer inenarrável.

Quando o calor aumentou, voltou para a água e nadou novamente até o outro lado. Ficou sentada olhando a correnteza suave do rio por muito tempo. Depois, aprontou-se para voltar para casa quando sentiu a presença de alguém por trás.

- Olá Alma

Ao ouvir essa voz, Alma ficou paralisada por um momento. Era Gerô.

- Quero conversar com você.

- Já estava indo embora. Não tenho tempo, com licença – disse a moça nervosa, mas o rapaz a segurou pelo braço. Alma gelou.

- Me larga, devo voltar já.

- Escuta aqui garota, ninguém rejeita um Bezerra, quero conversar com você e você vai me ouvir...- Nesse momento, Gerônimo abraçou-a com força e a derrubou no chão.

Nesse momento, Alma começou a gritar.

- Socorro!!!

- Não adianta gritar, ninguém vai te ouvir..Quero você para mim...só para mim....

A moça desesperada se debatia como podia. Continuava gritanto.

Gerô estava descontrolado de paixão e loucura, mas não percebera que uma sombra aproximava-se dele rapidamente. Quase num segundo, sentiu um golpe nas costas e caiu debruçado do outro lado de Alma. Ao tentar se levantar, viu um homem velho com um machado nas mãos, e com gesto ameaçador conseguiu que o rapaz fugisse assustado. Mas, olhando para Alma, gritou:

- Isso não acabou garota, vou voltar. Você ainda será minha!! – e desapareceu na mata.

O velho Jabú, o pajé amigo de Alma, ajudou a levanta-la e a abraçou com carinho. Ela não parava de chorar.

- Minha filha, já passou, não se preocupe...Você vai ficar melhor.....fica calma.....senta aqui – disse levando-a até uma pedra. Ali a moça se sentou e parou de chorar.

- Obrigada velho Jabú, obrigada....Se não fosse pelo senhor...não sei o que aconteceria..

- Minha filha. Olha, escuta bem este conselho deste velho pajé. Você deve tomar cuidado com esse sujeito. Ele é mau, ele pode prejudicar você e toda sua família.

- Mas, eu sei...eu sei...Nunca gostei dele. Aquele olhar sinistro..Meu Deus....

- Por ora, não se preocupe. Mas precisa tomar cuidado, muito cuidado. Não venha mais sozinha por aqui. É perigoso.

- Sim, obrigada.

- Toma isto – o velho tirou uma pequena bolsa com ervas – faça uma infusão com estas ervas que vai te acalmar. Se precisar de mim, é só chamar.....Agora, seja boa menina e vá para casa. Lá estão te esperando.

- Esperando? Como assim?

O velho deu meia volta e desapareceu na mata sem responder. Alma respirou fundo e percebeu o que lhe havia acontecido. Tremendo de medo e de ódio, voltou para casa correndo.

 

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