domingo, 29 de janeiro de 2017

A MULHER DA JANELA

Uma chuva forte de verão caia vertiginosamente na rua por entre os vidros da janela. Seu olhar macio e algo distante manifestava uma certa indiferença ao fenômeno natural. O que mais lhe atraia eram seus pensamentos mais recônditos, mas longínquos, algo que estava alem de sua mente fantasiosa e imaginaria. Sob o olhar de mulher moderna, mas que parecia estar ainda mais alem do seu tempo, Suzana olhou as nuvens escuras e pesadas que jorravam água no asfalto ressecado pelo calor de janeiro. Seus pensamentos estavam longe, muito longe. Tinha tanto o que fazer, tinha tanto o que planejar neste primeiro dia do novo ano. Um ano em que, se tudo dava certo, iria mudar sua vida por completo.
Seus olhos verdes pareciam duas esmeraldas que brilhavam de ansiedade. Apesar do trabalho que a esperava, ela queria contemplar a chuva, sentir o cheiro da chuva molhando a tarde quente de verão. Um leve sorriso quase melancólico parecia expressar  todos os seus anseios mais íntimos e profundos. Era uma mulher que pensava, e isso – diziam alguns homens machistas – era muito perigoso, quase uma catástrofe.
Mas Suzana era uma mulher de fibra e de muita fé. Quando colocava uma coisa na cabeça e tinha convicção que estava certa, ia enfrente sem ter medo das consequências. Isso lhe deu o respeito e a admiração dos amigos mais próximos. Parecia não ter medo, parecia ter o mundo nas mãos, e quanto sentia-se sozinha, ela simplesmente pensava, analisava e sonhava com dias melhores. Tinha um pensamento lógico incrível, um raciocínio inteligente e dinâmico que facilitava muito a elaboração dos projetos de vida.

Um novo país, uma nova vida. O mundo abria-se para ela, e ela não tinha medo. Suzana era, simplesmente, uma mulher de fé e essa fé podia mover montanhas. E ela sabia que o mundo se abria inteiramente para aqueles que não tinham medo de se jogar ao abismo do destino.

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