Uma chuva forte de verão caia
vertiginosamente na rua por entre os vidros da janela. Seu olhar macio e algo
distante manifestava uma certa indiferença ao fenômeno natural. O que mais lhe
atraia eram seus pensamentos mais recônditos, mas longínquos, algo que estava
alem de sua mente fantasiosa e imaginaria. Sob o olhar de mulher moderna, mas
que parecia estar ainda mais alem do seu tempo, Suzana olhou as nuvens escuras
e pesadas que jorravam água no asfalto ressecado pelo calor de janeiro. Seus
pensamentos estavam longe, muito longe. Tinha tanto o que fazer, tinha tanto o
que planejar neste primeiro dia do novo ano. Um ano em que, se tudo dava certo,
iria mudar sua vida por completo.
Seus olhos verdes pareciam duas
esmeraldas que brilhavam de ansiedade. Apesar do trabalho que a esperava, ela
queria contemplar a chuva, sentir o cheiro da chuva molhando a tarde quente de
verão. Um leve sorriso quase melancólico parecia expressar todos os seus anseios mais íntimos e
profundos. Era uma mulher que pensava, e isso – diziam alguns homens machistas
– era muito perigoso, quase uma catástrofe.
Mas Suzana era uma mulher de
fibra e de muita fé. Quando colocava uma coisa na cabeça e tinha convicção que
estava certa, ia enfrente sem ter medo das consequências. Isso lhe deu o
respeito e a admiração dos amigos mais próximos. Parecia não ter medo, parecia
ter o mundo nas mãos, e quanto sentia-se sozinha, ela simplesmente pensava,
analisava e sonhava com dias melhores. Tinha um pensamento lógico incrível, um
raciocínio inteligente e dinâmico que facilitava muito a elaboração dos
projetos de vida.
Um novo país, uma nova vida. O
mundo abria-se para ela, e ela não tinha medo. Suzana era, simplesmente, uma
mulher de fé e essa fé podia mover montanhas. E ela sabia que o mundo se abria
inteiramente para aqueles que não tinham medo de se jogar ao abismo do destino.
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