segunda-feira, 14 de junho de 2010

UMA SEGUNDA CHANCE (I) (Conto)


Maria Eduarda foi criada pela avó materna Dona Virginia, numa casa enorme cheia de plantas numa pequena cidade do interior do estado. Quando tinha quinze anos, a vovó Virginia faleceu e Maria Eduarda foi, finalmente morar com os pais numa outra cidade vizinha.
A criação de Maria Eduarda tinha sido muito feliz. A avó lhe ensinara tudo o que a vida tinha de bom, lhe ensinara a ler , inclusive antes de entrar na escola, lhe ensinara a ter amor pelos livros, pela poesia, pela música. Dona Virginia insistira para que ela estudara piano no único conservatório da cidade pequena e pacata, e com isso Maria Eduarda se abriu para a sensibilidade estética da arte.
Após a morte da avó, Maria Eduarda terminou o colegial e foi fazer faculdade em São Paulo. Como boa aluna e estudante dedicada, passou o vestibular e entrou no curso de Música da USP. Continuou os estudos de piano e em pouco tempo já foi contratada para entrar na Orquestra Sinfônica Municipal, como segunda pianista.
Aos vinte e três anos, Maria Eduarda conheceu João Paulo, um jovem carioca que tocava violino na orquestra e que acabara de chegar do Rio de Janeiro. Aos poucos os dois jovens foram apaixonando-se e, no meio dos ensaios e das notas musicais o amor floresceu.
Maria Eduarda alugava um apartamento antigo e muito grande no centro da cidade. João Paulo foi morar com ela e juntos faziam planos para melhorar na carreira e para formar família. João Paulo e Maria Eduarda desejavam uma bolsa de estudos em Paris. No meio dos sonhos e desejos os dois jovens desfrutavam de um relacionamento intenso e romântico. Nada poderia ser melhor neste mundo.
Maria Eduarda, quase tonta de felicidade, pensava na vovó Virginia e queria tanto que ela estivesse viva para poder abrir-lhe o coração de felicidade e contar-lhe todos os detalhes da vida tão feliz que levava.
O tempo foi passando, Maria Eduarda e João Paulo afiançavam a relação. Até que chegou o dia em que saiu a bolsa para Paris. Para infelicidade da Maria Eduarda, só o João Paulo conseguira. Eles conversaram muito e decidiram que o João Paulo iria para a França, ficaria lá um ano, e depois Maria Eduarda iria se encontrar com ele.
No começo de Setembro, quase com a chegada da primavera, João Paulo partiu para a Europa. Entre lágrimas e saudades, Maria Eduarda tinha que se acostumar a ficar sozinha.
A comunicação entre os dois era fluida no começo. Emails e telefonemas eram algo muito comum entre eles. As vezes, na solidão da noite, Maria Eduarda sonhava com Paris, sonhava que estava passeando com o João Paulo pelas ruas românticas da cidade. Toda a sua energia, os seus desejos, se concentraram em Paris. Maria Eduarda sonhava acordada e isso era um antídoto para suportar a lôbrega monotonia da rotina.
Continuava com o trabalho na orquestra sinfônica. A música era a sua companheira, o seu consolo nos dias de solidão.
Os meses foram passando. A primavera passou, o verão deu passo ao outono. Um certo dia, João Paulo escreveu um longo email. Dissera a ela que estava apaixonado por uma francesa e que ele a pedira em casamento. João Paulo decidira ficar na França para sempre.
O choque emocional que a coitada sofreu é simplesmente indescritível. Maria Eduarda chorou durante dias e semanas, preocupando os amigos e parentes. Ela emagreceu e começou a ficar deprimida. Não podia acreditar que o grande amor da vida dela desaparecera para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário