quinta-feira, 17 de junho de 2010

UMA SEGUNDA CHANCE (FINAL)


O amor é maravilhoso enquanto dura. Ele nos dá energia, satisfação e grandes esperanças. Quando termina é um cataclismo de emoções que perturba, entristece e deprime. Neste momento a emoção joga um papel preponderante. A mente mais equilibrada sofre um estremecimento. A vida continua, mas entre nevoas de decepção e sombras.
O outono com as leves folhas secas, passou rapidamente e chegou o inverno. O inverno é sempre silencioso e escuro. As névoas gélidas e o uivar do vento frio são terríveis quando se sofre. O coração de Maria Eduarda estava assim como esse inverno : escuro, silencioso, solitário e sofrido.
Quando sofremos o tempo é lento e se arrasta melancólico debruçando o desespero e a angustia que parecem não ter fim. Esta era a triste situação da Maria Eduarda.
Os domingos de inverno são os piores. Ela rara vez saia da cama. Só dormindo conseguia esquecer – se isso é possível – o seu sofrimento e a sua amargura. A vida estava pesada demais, o fardo era terrível e insuportável.
Foi então num domingo de inverno, Maria Eduarda tentava dormir a tarde e não conseguia. Então decidiu fazer um chá de camomila para ficar mais relaxada e descansar. Foi até a ampla cozinha e colocou água na chaleira depois voltou para a sala. Na TV estava passando um programa sem graça, deitou-se no sofá e ali adormeceu esquecendo completamente da chaleira.
A tarde estava cinza e fria quando Maria Eduarda entrou em um sono pesado e profundo. Na cozinha a chaleira começou a ferver.
Maria Eduarda se viu caminhando lentamente por uma trilha escura, parecida a um túnel que nunca vira antes. A sensação de apreensão era nítida. Caminhou por uns minutos e viu no fundo da escuridão uma luz tênue. Continuou caminhando até ela. Ao chegar viu que estava em um lugar tão diferente e bonito como nunca tinha visto antes. Era um jardim maravilhoso, colorido de flores lindas, a grama verde convidava a deitar e aproveitar a luz iridescente do sol matutino. De repente, percebeu que estava rodeada de muita gente. Gente vestindo vaporosos vestidos brancos. Não reconhecia ninguém até que caminhando entre essas pessoas viu a Vovó Virginia.
Maria Eduarda, emocionada, correu e abraçou a avó. Não precisava dizer nada mais. Ela tinha reencontrado a pessoa que mais amava no mundo. A vovó Virginia olhou para ela e secou as suas lágrimas. Maria Eduarda sentiu uma imensa sensação de paz invadir todo o seu ser. Estava feliz, estava com a avó. Caminharam juntos no meio da grama verde, de mãos dadas. Só se falavam pelo pensamento.
- Que bom te ver vovó...queria tanto estar com a senhora. Não imagina o quanto estive sofrendo, agora é diferente, agora estou aqui....para sempre...
A avó a olhou com ternura e beijou a sua face.
- Minha querida Maria Eduarda....vamos ficar juntas sim...mas não agora...Agora você deve voltar para sua casa, para suas coisas.....deve viver meu amor, deve continuar vivendo....você vai ter uma nova chance de viver.....
- Não, Não vó...por favor, quero ficar aqui...com a senhora...
- Minha doce menina....não pode ficar agora.....é melhor você acordar....acorda minha filha....acorda!
- Não, não....
- Acorde, acorde – A voz foi se apagando suavemente.

Maria Eduarda acordou tossindo muito. O apartamento estava invadido pelo forte cheiro de gás que vinha da cozinha. Ela acordou tonta, quase asfixiada com o cheiro. Levantou-se assustada e impressionada....Correu até a cozinha no meio da escuridão pois já era noite, e desligou o botão do fogão...
Quis acender a luz, mas lembrou-se que se fizesse isso tudo poderia ir pelos ares. Então abriu as grandes janelas da sala e sentiu o vento frio e impetuoso entrar por toda a casa. O vento uivava e parecia levar todo o cheiro horrível de gás, todas as tristezas, todas as amarguras, todo o sofrimento.
Maria Eduarda conseguiu se sentar na sala e ficou paralisada de emoção ao lembrar do sonho que tivera. As palavras da vovó Virginia não saiam da sua mente : “ Você terá uma segunda chance de viver”
Maria Eduarda foi tomar um bom banho e essa noite dormiu como uma criança.

Tudo o que aconteceu depois foi como um sonho mágico. Maria Eduarda se dedicou a carreira com afinco e alegria. Voltou a ser essa moça festiva e contente que contagiava com o seu sorriso a todos que a conheciam. Os amigos e parentes suspiravam aliviados. Maria Eduarda voltara a ser a mesma de sempre. Voltara a ser feliz.
Poucos meses depois, numa viagem que fez para a Espanha com uma amiga, conheceu um jovem brasileiro que, coincidentemente também estava viajando por esse país de férias. Se conheceram quando elas visitavam a Alhambra de Granada. No meio do histórico e romântico edifício mourisco, Maria Eduarda e Marcelo começaram uma linda historia de amor.
Quando voltaram da Europa, ela soube por meio de amigos em comum, que João Paulo tinha voltado ao Brasil, o casamento dele se desfizera e ele voltou com uma mão na frente e outra atrás para o Rio de Janeiro. Nunca mais se viram.
Maria Eduarda e Marcelo se casaram um ano depois. Ela viveu feliz essa nova chance que a vovó Virginia falou.
Tudo o que nos acontece está escrito nas estrelas do nosso destino. As esperanças, as emoções, o sofrimento, o amor, as chances que a vida nos oferece. Tudo, tudo está escrito.

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